domingo, 23 de maio de 2010

Samsa

Que, hoje, sou como Gregor Samsa.
Um estorvo.
Causador do desejo de morte alheia.
Ah, é que ela não vê o quão caro eu pago
E quanto peso eu carrego em minhas costas,
Apenas por ter sido, outrora, uma criança curiosa,
Que se surpreendia com o mundo
Mais do que as outras – e ainda se surpreende!

Que, hoje, meu mundo se resume em meu quarto.
Ah, a porta sempre fechada!
Para qual eu olho, olho, olho...
Pois um dos meus eus é confiante, é esperançoso – um tolo!
Mas o eu que aqui escreve
Sabe que naquela porta ninguém nunca mais baterá.

Ah, se ela entendesse!
Ah, se ela compartilhasse de meu mundo!
Se ela me visse somente por dentro!
Se ela percebesse que, apesar dos livros,
Ainda sou a mesma criança de anos atrás...

Nenhum comentário:

Postar um comentário