domingo, 23 de maio de 2010

Samsa

Que, hoje, sou como Gregor Samsa.
Um estorvo.
Causador do desejo de morte alheia.
Ah, é que ela não vê o quão caro eu pago
E quanto peso eu carrego em minhas costas,
Apenas por ter sido, outrora, uma criança curiosa,
Que se surpreendia com o mundo
Mais do que as outras – e ainda se surpreende!

Que, hoje, meu mundo se resume em meu quarto.
Ah, a porta sempre fechada!
Para qual eu olho, olho, olho...
Pois um dos meus eus é confiante, é esperançoso – um tolo!
Mas o eu que aqui escreve
Sabe que naquela porta ninguém nunca mais baterá.

Ah, se ela entendesse!
Ah, se ela compartilhasse de meu mundo!
Se ela me visse somente por dentro!
Se ela percebesse que, apesar dos livros,
Ainda sou a mesma criança de anos atrás...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Eu também já acendi o fósforo e o joguei no copo de café
Acreditando, inocente, que veria alguma coisa
Que não fosse manchas pretas no meu futuro.
Mas isso já foi.
Foi quando a esperança ainda sorria pra mim.
Quer dizer, ela ria de mim, mas eu não percebia.
E eu, tolo, olhando pra aquele copo de café arriscava diferentes futuros
Quais, confesso, errei todos.
Pois nada que eu imaginei eu merecia.
Mas o tempo passou.
Os anos passaram pra mim como passaram pra todo mundo.
Comi vários bolos.
E ainda estou aqui, vivendo.
Então, quero mais é que se foda mesmo.

Sobre mim e o tempo

O tempo não passa para mim.
Eu não tenho noção de tempo.
Estou escrevendo aqui agora,
Mas quando, daqui a anos,
Eu ler parecerá que foi ontem...

E daí se já se passaram anos!?
Ainda me faz sofrer.
O amanhã que me espera
É só o reflexo do hoje
E isso já há anos.

Gente parte,
Gente morre,
O mundo acaba
E eu continuo chorando
Pelas mesmas desgraças.
As mesmas!

Então, o que me importa o tempo?
O que é o tempo?
Não importa!
O que me importa é o que sinto.
E só.
Eu só.

Eu poderia dizer que preciso de um tempo,
Mas eu dizer isso?
Não.
Não eu.

Eu não queria que fosse assim.
Traga-me alguma novidade,
Mesmo que dolorosa,
Mas que prenda a minha atenção.
E que me liberte um pouco do que sou.

Se a vida tem mesmo que ser assim,
Assim eu não quero.
A morte é um beijo.
E o que fica – quando fica – a vida eterna.
Se eu me jogar daquela pedra
Rumo ao mar e a outras pedras
Será que encontrarei toda a inspiração
Que, em terra, não encontrei?
O que sentirei? Como será voar?
O vento me dirá tudo o que,
Com palavras, ninguém disse.
E eu escreverei todas as minhas sensações
Num pedacinho qualquer de papel.
Poemas, frases jamais feitas.
E, no fim, quem sabe eu morra,
Mas isso é o que menos importa.
Se morro, nada perco, pois nada tenho.
Deixo o tudo que me restava
Aos que ficam
Para que se lembrem sempre
Daquilo que fui ou
Daquilo que serei então.

Gustavo Toledo/Larissa Monteiro